Antes da decolagem, os passageiros de avião ouvem sempre a palavra despressurização quando são mencionadas as instruções para segurança do voo. Mas, apesar disso, a maioria não sabe o que essa palavra significa.
Por isso, neste artigo vamos falar de maneira simples e completa a respeito da despressurização, apontando o que é, quando e por que acontece e se existem riscos para a saúde dos passageiros.
O que é a pressurização?
“Em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão automaticamente dos compartimentos localizados acima dos assentos”, diz o vídeo informativo ou o comissário de bordo na demonstração de segurança antes da decolagem. Muitas pessoas ouvem essa informação no automático e não fazem ideia do que essa palavra significa e nem procuram saber.
Antes de explicar o que esse fenômeno significa é importante que você entenda o que é a pressurização e por que é necessário pressurizar um avião.
Nos anos 50, as aeronaves comerciais começaram a voar em altitudes mais altas (geralmente entre 9.000 e 12.000 metros), o que proporcionou aumento da velocidade e possibilitou que os voos a jato tivessem mais autonomia. Mas as grandes altitudes se mostraram prejudiciais à saúde do ser humano, pois a pressão atmosférica reduz de uma maneira que não é possível que o ser humano respire a mesma quantidade de oxigênio a cada inalação.
E o que acontece quando ficamos sem oxigênio? Nosso corpo entra no chamado estado de hipóxia (redução das taxas de oxigênio nos tecidos, no sangue arterial ou no ar) cujos sintomas são perda dos sentidos, delírios, desmaio e pode levar à morte.
Nas grandes altitudes, quando uma pessoa entra em estado de hipóxia, o tempo até perder os sentidos é de 10 a 40 segundos, é o tempo de consciência útil. O tempo varia conforme a altitude, o estado físico da pessoa (se ela pratica atividade física, se é fumante, tem problemas respiratórios, etc) e a velocidade (lenta ou rapidamente) que aconteceu a despressurização.
Como funciona a pressurização
A fuselagem do avião pode ser comprada com uma garrafa de refrigerante, ou seja, é um cilindro de gás sob pressão. O ar comprimido é injetado no interior da cabine através do sistema de ar condicionado e, conforme a aeronave vai subindo, mais pressão é necessária para que a atmosfera dentro da cabine seja mantida o mais similar possível com as condições encontradas no solo.
A pressão interna é mantida estável por um sistema automatizado que controla a pressão interna da cabine (para manter uma margem segura). Quando a aeronave começa a descer, a pressão interna vai sendo reduzida aos poucos até atingir a mesma pressão encontrada em solo no momento de pouso da aeronave.
Por exemplo, ao subir e descer uma montanha de carro, é comum sentir certo desconforto ou dor nos ouvidos. Isso acontece por causa da diferença da pressão do ar entre a parte interna e a externa do nosso ouvido. Nessa situação, a diferença de pressão estica a membrana do tímpano causando sensações desagradáveis.
O mesmo acontece quando viajamos de avião. A mudança da pressão faz com que as pessoas tenham a sensação de ouvido tampado, pois o ar dentro do ouvido empurra o ar que se encontra nas vias respiratórias. Para ajudar a aliviar esse desconforto e fazer com que as duas pressões se igualem dentro do nosso corpo, recomenda-se engolir a saliva com frequência ou mastigar um chiclete. Outra alternativa é fechar a boca, tampar o nariz com as mãos e forçar o ar em direção aos ouvidos.
Outra curiosidade é que a pressurização afeta, inclusive, nosso paladar, pois entorpece as papilas gustativas da língua. Isso faz com que seja comum sentir que a comida está sem gosto ou que o café não está quente. Estudos comprovaram que, durante um voo, as pessoas perdem aproximadamente 30% da percepção do gosto dos alimentos. A baixa umidade do ar causa também o ressecamento da nasofaringe, região do sistema olfativo, fazendo com que ela não consiga captar o cheiro da comida.
O que é a despressurização?
A despressurização raramente acontece, mas pode ocorrer em consequência de um vazamento em uma janela ou porta, o que faz com que a aeronave tenha dificuldades em manter a sua atmosfera artificial. Quando isso acontece, a oferta de oxigênio dentro do avião cai e pode causar hipóxia nos passageiros. É nesse momento que acontece o que a maioria das pessoas já viu em algum filme: as máscaras de oxigênio caem, para compensar a redução do oxigênio na cabine.
Mas fique tranquilo, porque ao contrário do que também é mostrado nos filmes, não há uma força que suga malas de viagem e passageiros para fora do avião. O que você pode ver são papéis e outros itens leves voarem por causa do movimento inicial do ar saindo por alguma pequena abertura.
O que fazer quando a aeronave é despressurizada
O primeiro passo é ficar calmo, pegar a máscara de oxigênio mais próxima de você e colocá-la sobre o nariz e a boca. Comece a respirar bem devagar. O suprimento de oxigênio é de 12 a 22 minutos. Nesse intervalo, os pilotos descem para altitudes mais seguras, abaixo dos três mil metros.
Quando o passageiro puxa a máscara para colocar no rosto, aciona uma cápsula de reação química que fica conectada à mesma.
Animais de estimação a bordo também devem usar a máscara. Mas é sempre bom seguir as instruções de segurança e colocar a máscara primeiramente em você para depois ajudar os outros.
Sintomas físicos
- Despressurização lenta: dificuldade de raciocínio e visão, dor de cabeça, euforia, fadiga, cansaço, confusão e problemas de coordenação.
- Despressurização rápida: problemas de coordenação; rápida expansão do peito; dificuldade de fala, respiração, raciocínio e visão; sinusite; dor de ouvidos; e formação e expulsão de gases.
Caso recente de despressurização
No mês passado, um avião da companhia aérea Ryanair, que transportava 189 passageiros de Dublin (Irlanda) para Zadar (Croácia) fez um pouso de emergência no dia 13 de julho em Frankfurt (Alemanha). Trinta e três passageiros tiveram que ser hospitalizados depois que a aeronave sofreu uma despressurização, mas receberam alta médica no dia seguinte.
Segundo o site Flight Radar 24, que monitora o tráfego aéreo, a aeronave passou de 11.300 metros para pouco mais de 3.000 metros de altitude em sete minutos.
A brasileira Erika Guimarães Fonseca, que estava na aeronave, contou que a falha começou depois de aproximadamente uma hora de voo. Em determinado momento, as máscaras de oxigênio caíram e ela começou a sentir fortes dores no ouvido, falta de ar e muito frio. Em uma entrevista, ela explicou que começou a se contorcer e achou que teria um derrame cerebral, e que a cabeça dela parecia prestes a explodir. Vários passageiros começaram a gritar.
Segundo ela, não havia como respirar sem as máscaras. Além disso, sua roupa e sua máscara ficaram cheias de sangue que escorreu de seu nariz. Quando o voo foi estabilizado, ela não entendeu o que o piloto falou porque ela, assim como muitas pessoas, não estava conseguindo ouvir mais. Ela estava entre os passageiros que foram levados para o hospital, onde foi constatado que havia sangue em seu ouvido que, de acordo com os médicos, sairia naturalmente em até quatro dias.
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